Atualmente, há uma constante busca pelo “corpo perfeito”. A influência da moda coloca as mulheres numa complexa situação, já que são provocadas e seduzidas para que se coloquem de acordo com os padrões de beleza atual, com essa reprodução de corpo ideal. É numa figura magra que se encarna o desejo de muitas mulheres, mesmo que para isso seja necessário utilizar recursos duvidosos. Uma nova e extensa área vem crescendo fortemente, a Estética. Vem atuando no sentido de corrigir as disfunções estéticas. Esta área dispõe de recursos que trabalham no sentido de restaurar a aparência, sem comprometer a saúde das pacientes.

O ultrassom é um dos métodos de tratamento mais utilizados pelos terapeutas para intervenção nas propriedades mecânicas de tecidos lesionados, dentre outras aplicações, como na área da estética. Foi no final da década de 40 e início da década de 50 que se conseguiu com sucesso a primeira aplicação do ultrassom em medicina, sendo que a partir de então sua evolução progrediu rapidamente.

O método de funcionamento do ultrassom está baseado na contração de um cristal; são utilizados cristais cerâmicos sintéticos que têm propriedades piezelétricas. Ao se colocar um material piezelétrico num campo elétrico, as cargas interagem e produzem tensões mecânicas (figura 1). Quando a corrente for desligada, o cristal retorna à sua forma original. Esta ação mecânica provoca a emissão de ondas ultrassônicas com frequência igual à corrente recebida ou à corrente que incide sobre o cristal dentro do transdutor. O cristal precisa ser cortado com dimensões apropriadas, sendo a espessura o mais importante, de modo que ressoe na frequência escolhida e assim alcance a máxima vibração.

Figura 1: compressão e dilatação do cristal.

Os efeitos do ultrassom dependem dos seus parâmetros de aplicação. A quantidade de energia que irá alcançar um local específico estará relacionada com as características do ultrassom, ou seja, com a frequência (modo) que a onda será gerada (intensidade), influenciando diretamente na produção de efeitos térmicos e não térmicos.

Os equipamentos possuem ondas sonoras de alta frequência, normalmente entre uma frequência de 1,3 e 4 MHz (figura 2); essa onda é propagada e incide através dos tecidos, sendo absorvida. Frequências altas de 3 e 4 MHz são de acelerada absorção, específicas para tratamento de tecidos superficiais; e frequências baixas de 1 MHz penetram mais facilmente e são empregadas para tratamento de tecidos mais profundos.

Figura 2: relação entre frequência e profundidade do ultrassom de alta frequência.

Os aparelhos de ultrassom de baixa frequência, também chamados de ultracavitação, possuem baixa frequência e alta potência. A ultracavitação é uma onda de ultrassom com frequência envolvendo a vibração do tecido adiposo, ou seja, na faixa de frequência de KHz gerando maior profundidade de penetração (figura 3).

Figura 3: profundidade de penetração inversamente proporcional à frequência.

As ondas do ultrassom podem ser geradas de dois modos, contínua e pulsada (figura 4), sendo a interrupção de energia a diferença entre eles. No modo contínuo não ocorre interrupção de energia, havendo, portanto, depósito de energia nos tecidos, gerando acúmulo de calor (efeitos térmicos); já no modo pulsado ocorre interrupção frequente de energia e, consequentemente, os efeitos atérmicos do equipamento.

Figura 4: modos contínuo e pulsado de ultrassom.

As vibrações ultrassônicas causam compressões e expansões nos tecidos em uma mesma frequência, que é emitida pelo aparelho. O efeito mecânico, portanto, também é chamado de micromassagem, e consiste na reação mecânica dos tecidos devido à pressão da onda ultrassônica.

O efeito destrutivo do ultrassom (cavitação colapsada) pode ocorrer por influência de altas intensidades (figura 5), propondo que a cavitação é o mecanismo físico responsável pelas alterações celulares. Evidenciam-se na literatura alterações na membrana e consequente destruição de diversos tipos de células submetidos à radiação com ultrassom.

Figura 5: cavitação instável e estável.

O tempo de aplicação do ultrassom pode ser calculado de posse das medidas da área a ser tratada, o qual é dividido pela ERA (área efetiva de radiação do cristal) do ultrassom e programado no display do equipamento.

Exemplo de cálculo: em uma região de 400 centímetros quadrados, empregando-se um transdutor de 16 centímetros quadrados de ERA (400, área a ser tratada, dividido por 16, a ERA), resultando em 25 minutos de aplicação.

 

Disfunções  Tratadas

I – ULTRASSOM NO TRATAMENTO DE FIBROSE

A fibrose é a formação ou o desenvolvimento em excesso de tecido fibroso que ocorre como processo reparativo ou reativo após um trauma tecidual. Como resposta à agressão, o tecido reage com inflamação, proliferação e remodelagem e, à medida que o processo cicatricial evolui, o tecido de granulação transforma-se em um tecido mais fibroso (figura 6) e menos vascular até tornar-se tecido fibroso denso, e posterior fibrose. Situação frequentemente encontrada na celulite fibrótica.

Figura 6: formação do tecido fibroso.

O ultrassom pode ser indicado nas fases aguda e crônica do processo cicatricial. Os efeitos são dependentes de muitos fatores, tais como intensidade, o estado fisiológico do local a ser tratado e o modo (contínuo ou pulsado) de aplicação. Na presença de fibrose, nossa sugestão é a aplicação no modo contínuo com doses até 1,5 W/cm², com o objetivo de aumentar a elasticidade do colágeno e podendo ser aplicado logo em seguida à técnica de vacuoterapia para melhorar a mobilidade tecidual.

II – ULTRASSOM NO TRATAMENTO DE GORDURA LOCALIZADA

O uso do ultrassom começa a despertar interesse na estética a partir da comprovação dos efeitos de lipólise do triglicerídeo no tecido adiposo. Age primeiramente provocando a quebra das ligações químicas do triglicerídeo, fazendo a separação em ácidos graxos e glicerol (figura 7). Além disso, as ondas sônicas provocam alteração da permeabilidade da célula adiposa, tornando-a mais permeável. O conteúdo lipídico extravasa para o meio extracelular por meio de aquaporinas, que são canais presentes nas membranas plasmáticas das células do organismo. O fato de o ultrassom não ser invasivo e não causar lesões (em baixas doses) à membrana celular do adipócito, evidencia que se deve repudiar conceitos de que este rompe estruturas colágenas, pois não existem doses terapêuticas para isso.

Figura 7: separação do triglicerídeo em ácido graxo e glicerol.

Estudo com ultrassom em ratos comprovou o efeito lipolítico da técnica através do aumento das taxas de ácidos graxos livres e da norepinefrina pelos nervos simpáticos nas áreas de gordura, concluindo que há realmente lipólise quando usadas frequência e intensidade ideais.

Um estudo avaliou os resultados do uso do ultrassom na técnica de lipoescultura para reconhecer os mecanismos termofísico, cavitacional ou direto e sua relação com o processo de dano celular. A análise microscópica confirma que o tecido adiposo com efeito do ultrassom sofre uma ação seletiva, produzindo rupturas de macromoléculas e estruturas celulares, provavelmente através de micromovimentos tissulares.

O US de 3 W/cm² tem o objetivo de provocar efeitos de cavitação colapsada. A cavitação colapsada foi definida em 1895 por Thornycroft e Barnaby como uma fonte de vibração que gera a implosão de bolhas ou cavidades aquáticas na membrana do adipócito e com isso promove a lise (necrose) da membrana adipocitária, na qual os triglicerídeos são desdobrados na superfície da gotícula de gordura e os ácidos graxos liberados e metabolizados.

No tratamento da adiposidade localizada com US, são utilizados aparelhos de alta intensidade (potência), objetivando a abertura transitória da membrana da célula; triglicerídeos são liberados para o fluido intersticial, onde os ácidos graxos ficam circulantes, podendo ser reutilizados como fonte de energia orgânica ou serem reabsorvidos pelo fígado, resultando na diminuição do tecido adiposo.

Vários estudos demonstram que a aplicação de US deve ser associada a outra técnica que realize o consumo de energia liberada pelo mesmo, sugerindo que o tratamento com a associação de técnicas de eletrotermoterapia deve ser associado a protocolos de gastos calóricos.

III – ULTRASSOM NO TRATAMENTO DE CELULITE

De particular relevância entre os fatores para o desenvolvimento da celulite estão a arquitetura tecidual, a ação de estrógenos, as alterações microvasculares, os processos inflamatórios e certas características genéticas e hormonais, que poderiam explicar os aspectos anteriores. É, portanto, necessário tomar alguns ou todos esses fatores em consideração ao protocolo de um tratamento.

Devemos adotar uma posição eclética em relação às diferentes teorias discutidas acima. Alguns aceitam que a celulite é um fenômeno fisiológico, ou pelo menos que possui base fisiológica, de origem multicausal, e nas quais coexistem muitos fatores que o desencadeiam, perpetuam ou exacerbam a disfunção.

As alterações microcirculatórias podem ser desencadeadas por insuficiência de esfíncteres pré-capilares, cuja função reguladora do fluxo sanguíneo encontra-se modificada nas áreas afetadas pela celulite. A alteração do esfíncter arteriolar pré-capilar leva a um aumento da permeabilidade capilar e venular, com estase circulatória e consequente edema na derme (infiltrado inflamatório de baixo grau), nos septos interlobulares e interadipocitários.

As citocinas inflamatórias locais também induzem a síntese de colágeno. Pressão capilar aumentada, uma diminuição na pressão osmótica plasmática e um aumento na pressão osmótica intersticial (ou diminuição do fluxo linfático) levam ao edema.

Kligman relatou o aspecto difuso do processo inflamatório celular, com macrófagos e linfócitos nos septos fibrosos, a partir de biópsias de pele. Segundo este autor, os septos seriam os responsáveis pela inflamação leve que resultaria em atrofia cutânea.

Weimann realizou um estudo com 10 pacientes, aleatoriamente, formando dois grupos, onde o primeiro grupo foi submetido à terapia com ultrassom, e o segundo grupo não recebeu nenhuma intervenção terapêutica no período. O ultrassom foi utilizado na frequência de 3 MHz, no modo contínuo, com dose de 1,2 W/cm², e foi aplicado por 7 minutos em cada glúteo. O tratamento consistiu de 20 sessões, realizadas 3 vezes por semana, em dias alternados. Todas as voluntárias foram submetidas a uma avaliação inicial, para verificar o tipo e grau da celulite apresentada. Com o término do tratamento proposto, nova avaliação foi realizada e revelou que a utilização do ultrassom mostrou-se eficaz no tratamento da celulite, uma vez que diminuiu o grau de acometimento.

Sugestão de programação na celulite inflamatória é usar no modo pulsado (percentuais baixos de pulso) e doses baixas. Na celulite com fibrose, modo contínuo e doses que não ultrapassem 1,5 W/cm².

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